Deveria publicar as notas finais da Irlanda, eu sei, tentarei ser breve.
Acontece que é domingo e eu estou de volta ao paraíso.
Ps: Esta garota vai dar muito que falar, apostem.
Deveria publicar as notas finais da Irlanda, eu sei, tentarei ser breve.
Acontece que é domingo e eu estou de volta ao paraíso.
Ps: Esta garota vai dar muito que falar, apostem.
Saí de Portugal com a ideia de não passar em Dublin o dia de hoje e o de amanhã. Inicialmente porque não me apetecia participar em festa alheia e também porque queria conhecer a ilha sem ter uma rota definida, aqui chegado reforcei essa vontade ao saber que coincidente com a final da Liga Europa há a visita da rainha de Inglaterra. Fiquei em Dublin apenas o tempo necessário para tratar de alterar reservas anteriormente feitas e penso regressar quinta-feira, veremos.
Despachado o bilhete que prometi oferecer caso o Benfica não estivesse presente na final de amanhã, parti hoje de Dublin com destino a Cork. Como é normal nas viagens que faço os meus planos vão sendo alterados conforme as circunstâncias. Desta vez a circunstância tem nome próprio, chama-se Edmund e é um carteiro aposentado originário dos arredores de Limerick. Conheci-o hoje de manhã numa rodoviária, depois descrição que me fez da sua cidade natal decidi logo ali alterar o destino e seguir caminho na sua companhia. Confirmo quase tudo o que me descreveu da cidade mas só amanhã com mais tempo a vou poder conhecer com mais detalhe, hoje tratei de arranjar hotel e preparo-me para ir com ele beber um pint de Guinness num “verdadeiro templo” que “não tem nada a ver com esses lugares cheios de turistas”. Darei nota logo que possível desta incursão etílica.
Antes deixo duas notas apenas que me parecem significativas da diferença entre nós portugueses e irlandeses. Aqui os sacrifícios provocados pela crise estão a ser violentos ao ponto de ter havido fortes cortes salariais, quer nos funcionários públicos no activo quer nos reformados como é o caso do Edmund e da esposa. A segunda nota é sobre o espanto do Edmund, mas principalmente da esposa Enya, quando lhe disse que havia aposentados com quarenta e poucos anos em Portugal sem que para passarem a essa situação tenham motivos de saúde. Ela até aí pouco faladora já me perguntou pelo menos umas dez vezes pormenores dessa característica, tão nossa. Ele aposentou-se com 69 anos e ela com 66. Sintomático.
Como tive de passar duas horas e meia de espera forçada no aeroporto de Lisboa, aproveitei, para logo aí colocar a leitura de jornais em dia, por isso o tempo de voo iria servir para rever um texto que tinha alinhavado desde sábado e colocar aqui logo que chegasse ao hotel. Desisti a meio.
Tinha uma vasta lista de casos que contrariam a afirmação de Pedro Passos Coelho que Portugal não tem universidades com reconhecimento internacional. A lista para além de longa é bem diversificada nas mais variadas valências, desde áreas técnicas, passando pelas médicas até as ciências sociais, teria até de ser acrescentada com mais duas que, soube-se, no final da semana passada passaram a fazer companhia a Universidade Católica entre as melhores do mundo na área económica e de gestão.
Também abordava uma entrevista dada pelo cabeça de lista por Bragança, Francisco José Viegas, onde sentenciava o fim do Ministério da Cultura. Ironia das ironias o país que acaba de me receber criou esse ministério após a intervenção do FMi como parte das medidas para recuperar economicamente. Afinal a cultura também contribui para o crescimento económico em todos os países da Europa com a excepção de Malta e Hungria, devem ser esses os exemplos que o escritor, cozinheiro, mestre cervejeiro, editor, bloguer, etc quer copiar em Portugal.
Assim muito ao de leve também havia uma referência á vitimização de Fernando Nobre e ao livro que ameaça vir a escrever com as “malfeitorias” que diz está a ser vítima, mas era assim mesmo muito ao de leve porque a personagem já não merece mais que isso tanto é o disparate.
Abri o último capítulo com a rábula do mais africano dos candidatos, dito pela Sua excelência marido de África. Foi aí que desisti e apaguei todo o texto. Já é demais, chega.
Assim sendo limito a um pedido!
Ajudemos encarecidamente o PSD a chegar com alguma dignidade a 5 de Junho. Apesar de tudo vai fazer alguma falta nos tempos que aí vêm. Será um grande favor que fazemos ao PSD, mas um enormíssimo favor ao país.
PS: No táxi que me trouxe do aeroporto até ao hotel comecei a perceber o completo desconhecimento sobre o jogo da final da Liga Europa, nem quais as equipas que participam sabem, apenas que são portuguesas, facto que vou confirmando com cada Irlandês com quem vou comentando o assunto. Para meu completo espanto mais rapidamente sabem que o Braga é um dos finalistas do que o Porto. Não, não é uma provocação que faço aos portistas, muito menos ao meu camarada blogueiro Miguel. Já não de todo surpreendente foi este comentário do taxista: “Vocês também estão a levar com o FMI, não é?” Após ter respondido afirmativamente, caiu-me o queixo com o que se seguiu. “Aqui dizem que vocês só estão a passar por isso porque há uma luta de poder, nós foi porque os bancos são uns ladrões…”
Nunca fui dado a crendices ou superstições, aliás, sigo uma máxima muito usada no Brasil, se não estou em erro da autoria desse génio do humor Millôr Fernandes, que diz que não se deve ser supersticioso porque dá azar. Mas dias há que a dúvida se instala e fica-se a pensar.
Hoje ao pegar no meu carro para ir trabalhar, descubro que tenho um pneu em baixo, nada que não se resolva, uma dose de bom humor matinal com o facto de ser sexta-feira 13 e encaro o contratempo como exercício matinal, troco a roda da besta, sim aquilo tem o tamanho de uma besta porque no caso é um jipe. Arrisco ir até Lisboa com o pneu suplente, porque, àquela hora não havia oficinas abertas em Santarém.
Já quase a chegar a casa com o pneu concertado, sem o parafuso que o deixou ko, entra-me um carro pela traseira dentro com tal violência, até para um sujeito pouco dado a sustos como eu, que me deixou a tremer até agora. Depois de me certificar que não havia danos físicos de maior em ninguém percebo que os estragos materiais são consideráveis, o meu pequeno monstro ficou com a traseira destruída e o carro que lhe bateu dificilmente terá vida para além de hoje, pelo menos vida que se recomende. Enquanto se espera por reboques e se trata das formalidades habituais com as autoridades, dou com o condutor do outro carro num choro compulsivo sob os destroços daquilo que já foi o seu carro, tento consolar um homem em desespero total porque perdeu a sua principal ferramenta de trabalho e não sei o que lhe diga.
No meio disto tudo descubro que tenho a mão direita com o dobro do tamanho e um problema qualquer no dedo anelar, toca para o hospital antes que seja tarde. Agora tenho uma coisa metálica a proteger o dedo e o resto da mão cheia de ligaduras.
Tudo isto porque na próxima segunda feira tenho viagem marcada até á Irlanda onde vou passar uma semana de férias e assistir ao jogo da final da Liga Europa em Dublin, onde supostamente deveria estar o meu Benfica se não fosse mais incompetente que a incompetência.
Não sei se é porque o calendário me diz que hoje é sexta-feira 13 ou apenas estou a ter um dia mau, sei que vou continuar a acreditar na segunda hipótese, afinal ser supersticioso dá mesmo azar.
Sei que no meio de tanto disparate só nos resta o humor, mas parece-me avisado lembrar que não raras vezes o humor esconde ou ajuda a relativizar o lado perverso das coisas, neste caso refiro-me a declarações bem mais graves. Ontem foi um festim dos diabos mal o Sr Eduardo gafe Cartroga se saiu com a dos "pentelhos", pelo que noto a ramboia dura e tem terreno fértil para continuar na ribalta. Que tal analisar a atitude da SIC N, canal onde o dito senhor soltou o "perdigoto"? Primeiro cortou essa parte como sendo um problema técnico, depois mostrou-o sem qualquer enquadramento jornalístico num vídeo perdido no meio de duas notícias sem qualquer correlação entre si e sem chamada de atenção. Terá sido acionado o pânic boton do Sr. Francisco militante número um Pinto Balsemão? Hoje no Correio da Manhã vem uma pequena nota com duas frases escondida a um canto sobre a ocorrência e com um título deveres revelador " Eduardo Cartroga, sem papas na língua". Agora bem mais a sério. Ninguém percebeu o tamanho da pouca vergonha, falta de educação, de conhecimento histórico e até de juízo na analogia que esse senhor fez entre o Primeiro Ministro demissionário e Hitler numa entrevista publicada ontem no jornal Público? Alguém me explica o porquê da cortina de silêncio sobre isto em toda a imprensa? Será isto a imprensa amiga de José Sócrates que tantos querem fazer passar? Antônio Ribeiro Ferreira não é muito recomendável à luz de qualquer critério, quer sejam os de bom gosto ou éticos, mas, tem uma forma muito peculiar de abordar os bastidores da política portuguesa. Hoje na sua habitual coluna do Correio da Manhã diz que Pedro Passos Coelho e restante cúpula de partido ligaram os alarmes após a disparatada e pouco heterodoxa conferência de imprensa que Cartroga deu na passada segunda feira, parece que a partir daí a idéia tem sido silenciar ao máximo a personagem. Se depois disso já houve a tal analogia e o pentelho não quero nem imaginar se lhe soltam a verbe!
Hoje o Diário de Notícias pública um trabalho muito interessante sobre as várias possibilidades de coligação pós eleições de 5 de junho. Não vou para já fazer considerações sobre as várias possibilidades em aberto, será assunto que pretendo abordar mal conheça todos os programas políticos. Há no entanto um pequeno quadro infográfico que me chamou a atenção. O Pedro Magalhães que durante anos chefiou o centro de sondagens da Universidade Católica fez a média de todas a sondagens conhecidas até hoje e os resultados são deveras interessantes. Tanto o PS como o PSD aparecem num empate técnico na casa dos 35%, até aqui nada de novo. O que realmente me parece relevante é o facto de que enquanto os socialistas beneficiam do voto útil na esquerda com a queda acentuada o BE o PSD está com um problema sério. A direita está nitidamente a inclinar o voto útil no CDS. Todos estes factos somados ao inegável talento do partido de Paulo Portas crescer em campanha leva-me a suspeitar que o maior inimigo do Pedro Passos Coelho, para além dos disparates do Sr Cartroga, é o homem que ele escolheu para ser preferencialmente o "pau de cabeleira". Será que alguém na São Caetano a Lapa já percebeu isto? Se sim, vamos assistir a um esgadanhar dos partidos da direita pela mesma franja de eleitores que ainda podem fazer a diferença? Não tenho respostas para as perguntas que acabo de formular, mas tenho uma certeza. Daqui até ao dia das eleições ainda teremos muitas surpresas nas estratégias de campanha dos partidos de direita. Vai ser bonito de assistir.
Nota:
Hesitei muito se deveria publicar aqui este post, decidi faze-lo porque apesar de a ideia que deu origem a este blog não contemplar assuntos pessoais, o que aqui se segue também faz parte de mim e por isso parece-me fazer sentido que o faça.
Ao Zé Bezerra
Saltava com as pernas dobradas e caía de joelhos nas campas de onde recentemente tinham tirado as ossadas. O cemitério tinha mudado para o outro lado do adro da igreja muito recentemente, agora aquele espaço era o nosso recreio, ainda nenhum de nós sabia o que era a palavra mórbido e muito menos o seu significado. Aquele era o lugar perfeito para o nosso grupo de cowboys, armados de pistolas de pau disparávamos tiros pela boca como se não existisse amanhã. De todos o Zé Bezerra era o mais corajoso, louco até, na altura tínhamos a ideia de que nele o limite era inatingível. No futebol era duplamente útil, era-o porque ao contrário de toda a gente só gostava de jogar a guarda-redes, apesar de ser mais frangueiro que frango de capoeira, mas mais útil se tornava nos arraiais de porrada que protagonizávamos no fim de cada jogo, aí ele deitava e rolava mesmo sendo franzino e até baixote. Se havia ideia de aventura era o primeiro a alinhar, ficava fulo se a maioria por qualquer motivo desistia. Nunca esquecerei um episódio passado num acampamento de escuteiros. Escapa-me o motivo, provavelmente nenhum, que nos fez desatar ao murro com os escuteiros de Castelões, sei que em menos de nada já estávamos todos a distribuir socos e pontapés na mesma proporção com que os recebíamos em troca, a determinada altura um de nós deu um estalo num miúdo do grupo deles que estava com cara de pânico ali só a assistir, imediatamente o Zé esqueceu de que lado da barricada estava e deu-lhe um murro violentíssimo e um grito, “neste ninguém toca porque é meio deficiente, isso é porco”. O “meio deficiente” é o Victor de quem hoje também sou amigo, filho de um colega de trabalho do meu pai, fui ao casamento do Victor com a Paula ambos portadores de síndrome de Donw, sei que foi senão o primeiro, dos primeiros casamentos entre portadores desta deficiência em Portugal.
Com o Bezerra fumei o primeiro charro, fui ver o meu primeiro rally sem os meus pais saberem, roubei o frango ao padre e com ele fiz o meu primeiro arroz de cabidela numa fogueira atrás da sede dos escoteiros, andei a “roubar” vasos de flores pela vizinhança e colocar no adro da igreja na noite de sábado para domingo de ramos, porque assim manda a tradição. O Sr Alfredo morreu com a ideia de que tinha sido o Zé a levar uma ovelha e prende-la com uma corda ao badalo do sino da igreja, sempre que o pobre animal se tentava livrar daquele pesadelo puxava a corda e com isso o badalo do sino ripacava aleatoriamente, a vizinhança não teve sossego durante aquela noite. Não, não foi o Zé, fui eu, nessa ele nem presente estava, mas a fama que tinha de aprontar todas e mais algumas levou a que o homem sempre que se falava do Zé recordar o episodio acompanhado do comentário, “aquele malandro” seguido de um suspiro, tentei variadíssimas vezes que aceita-se a verdadeira versão da historia mas nunca o consegui convencer.
Com o professor Cardoso, nosso primeiro professor primário, sempre que nos encontramos há tertúlia da boa por horas, nalgumas dessas vezes pergunta por este ou aquele aluno daquele tempo, um dos que mais vezes recordamos é o Zé, ambos concordamos que talento nunca lhe faltou, provavelmente a orientação que lhe deu é que não tem sido a melhor e isso entristece-nos
Mais tarde já eu tinha ultrapassado as fronteiras da aldeia e tentava com isso ganhar o mundo o Zé abandonou a escola e fazia pequenos biscates na construção civil para ganhar uns trocos que de imediato eram gastos em charros e cerveja, depois passou a vender pequenas quantidades de haxixe em troca do que consumia e com isso lá se sustentava. Passou de miúdo traquina a pouco recomendado pelos pais dos nossos amigos.
Ganhei o mundo e sempre que visitava a aldeia sabia notícias diferentes do Zé, ou andava perdido pela cidade a arrumar carros, desaparecido sem ninguém saber dele, dizia-se que estava para o Porto, Lisboa, Espanha, preso, etc. Dependia de a quem se perguntava.
Nunca esquecerei a tarde de nostalgia quando eu, um fio de gente entre a vida e a morte, o tive sentado ao meu lado na cama do IPO. Foi a primeira vez que o vi chorar.
Nas últimas vezes que o vi aparentava saúde ferro, vivia numa casa enorme comprada recentemente a um emigrante lá na aldeia, conduzia um carro potente e tinha duas motas de alta cilindrada, não precisei de perguntar de onde vinha o dinheiro para tanta ostentação repentina, o movimento e as visitas que recebia denunciavam-no.
O ano passado perto do natal a minha mãe ligou-me a contar que o Zé tinha sido preso naquela manhã, consta que eram mais de trinta polícias a cercar a casa e houve tiros. Logo no dia tentei, por amigos comuns, informar-me se apesar de tudo ele estava bem, estava, com todos lamentei aquele desfecho mas não voltei a pensar no assunto, afinal não era nada que eu não esperasse.
Este domingo sem saber porquê lembrei-me do Zé e dei comigo a viajar no tempo, dei comigo a ter vergonha de mim, sentir nojo do preconceito que temos sem saber, que está cá bem entranhado nas nossas vidinhas. Onde andaria o Zé? Como estará ele? Tem visitas? Quem são na verdade os seus amigos? Quem sou eu para o julgar se a justiça já o está a fazer? Porque o abandonei? Que merda de amigo sou eu que não quis mais saber dele? Que… Que… E que?
Depois de saber em que estabelecimento estava detido fui saber quando o podia visitar.
Aconteceu hoje e o Zé chorou comigo pela segunda vez. O Zé é o mesmo, corajoso como sempre
Até hoje fui o primeiro a fazer-lhe uma visita, não me honra em nada esse facto nem serve para julgar os nossos amigos de sempre, como sempre o Zé aguenta mais esta sem mostrar fragilidade ou ressentimento, tentou confortar-me pela minha culpa e justificou a ausência de toda a gente, mas os olhos do Zé não enganam.
Grande Zé.
Também tu começaras de novo
De Alcoentre ao Secas, ao Rubeche, ao Dif, ao Micão, ao Fininho, ao Cardoso, aos Malgas Fredo e Fernando, ao Zé bicho, ao Gil, ao Zé Armindo, ao Meco, Ao Pingalas, aos Regos Virgílio e Fernando, ao Tá, ao Mechas, ao Susto, ao Richa, ao Sistrinho, ao Ni, ao Tarado, ao Sió, ao Mélinha, ao Gato, ao Checha e ao Né mando um abraço que o Carteiro entregará em braços.
Um abraço especial cheio de saudades ao Agostinho galinheira que lamentavelmente não saberemos se lá do outro lado consegue ver isto.
Zé Bezerra.
Antecipadamente peço desculpas por demorar mais que o que pretendia na minha abordagem prometida ao acordo celebrado entre o Estado Português e a Troika para o processo de ajuda financeira a Portugal. Também peço desculpa por este texto ser longo mas dada a tecnicidade de algumas questões não consigo faze-lo mais curto como se impõe num blog. Obrigado
Não foi só o meu camarada Miguel que aqui entrou no erro dos recados e dos raspanetes dados pelos técnicos da chamada Troika ao Governo da Republica.
Antes de me alongar nas explicações que entendo úteis queria abordar, a conselho de um amigo leitor do blog e também porque tenho lido, visto e escutado muitos disparates inimagináveis sobre o tema “Mercados”.
O Mercado das dívidas soberanas funciona exactamente da mesma forma que funcionam as bolsas de valores ou se quisermos ser simplistas, funciona da mesma forma dos mercados da fruta e legumes. Coloca-se um produto para venda, neste caso títulos do estado, alguém está interessado e compra, se o produto é bom há mais gente interessada, logo é mais valorizado, se não, é desvalorizado. No caso das dívidas soberanas não é bem uma venda no sentido tradicional do termo porque haverá uma recompra desse título, mas, a lógica da qualidade/oferta/procura é a mesma. Quando se diz que um estado “vai ao mercado”, estamos a dizer que as autoridades competentes vão oferecer títulos desse mesmo estado em troca de dinheiro e dão como garantia uma determinada taxa de juro acordada logo aí, mais o valor que pegou emprestado. Ora é aqui que as duvidas e os disparates se alastram que nem fogo em gasolina. Sempre que foram feitos esses leilões pelo estado Português a taxa de juro estava no deadline daquilo a que os operadores chamam de “ponto de expectativa”, momento em que a pressão é exercida mas pode em função das circunstâncias descer ou subir, desce quando a confiança absoluta volta ou sobem acontece o inverso, tentando assim minorar danos pela compra de um título que eventualmente se degrade até ser lixo. Neste meio tempo entre a tomada do empréstimo por parte de um estado e a data acordada para a recompra dos títulos entra o tão propalado segundo mercado. Este não é mais nem menos que o da especulação, quem comprou os títulos na venda inicial pode se assim o entender vender esses títulos a um outro comprador, se o título se valorizou vai ser vendido por um valor superior ao pago inicialmente, senão será inferior. O que determina o lucro ou prejuízo nesta operação é o valor dos juros pagos nessa transacção. Há investidores que por medo de perdas futuras, necessidade de realização de capital, interesse de investir noutros produtos acabam por vender esses títulos e invariavelmente a especulação entra no negócio, tanto provocada por quem vende como por quem compra, uns a puxar para cima a cotação outros a tentar desvalorizar. Mas que fique claro quem vendeu os títulos inicialmente não tem nada a ver com esse jogo nem paga mais ou menos pelo acordado inicial. Nem um estado entra, era o que faltava, no negócio intermédio dos seus títulos. Também há com frequência o facto de na grande maioria das vezes estes produtos serem propriedade de entidades financeiras que não raras vezes os usam como garantia de empréstimos, se o título está bem cotado é necessária uma quantidade menor para um empréstimo maior, se não, verificasse o oposto como é óbvio. Também estes dois lados jogam com a especulação a seu belo prazer e conveniência.
Posto isto, restam-me duas considerações. O leilões da dívida soberana Portuguesa pré PEC IV estavam com taxas altas mas comportáveis, na casa da tal “taxa de expectativa”, mais que isso houve em todos eles uma procura muito superior a oferta, num deles chegou a quatro vezes o numero de títulos colocados á venda. Se há sinal de que o valor da dívida Portuguesa tinha a confiança dos mercados ele é este. O que o mercado esperava era um sinal de que a situação não se iria degradar e esse sinal era o PEC IV. Prova-o o facto de no dia imediatamente a seguir ao que foi apresentado as taxas no segundo mercado baixarem três pontos percentuais, mal se soube do chumbo do PEC IV e como isso implicaria o congelamento do fundo de resgate europeu as taxas voltaram a subir e desta vez para valores que nunca tinham atingido, chegando inclusive a dois dígitos. Se isso não implicaria Portugal pagar mais pelos empréstimos que tinha feito anteriormente inviabilizou empréstimos futuros porque como é óbvio as taxas pedidas nesses empréstimos seriam incomportáveis. Foi isto e não mais que isto que tornou obrigatória a vinda do FMI (Fundo monetário Internacional) para juntamente com O BCE (Banco Central Europeu) CE (Comissão Europeia)
A execução orçamental de 2010 foi 18,3% superior ao estimado no orçamento daquele ano. A DGCI (Direcção Geral de Contribuições e Impostos) recuperou mais de 400 milhões de euros de impostos atrasados. Pela primeira vez a despesa primária do estado desceu em valores percentuais homólogos, cerca de 2,5%, pouco é verdade, mas não deixa de ser um sinal. As exportações bateram recordes no ano de 2010, chegando a compensar a diminuição da procura interna e com isso evitando a recessão da economia. Já em 2011 a execução orçamental continuou a bater recordes de chegando aos 21% homólogos no primeiro trimestre, levando em consideração que no ano anterior já tinha sido excepcional é um feito considerável. As exportações continuaram a subir na ordem dos 17%, mesmo com a subida das importações em 8% houve um claro superávite na conta corrente da balança de pagamentos. Há um dado nas importações que não é de somenos, o grande volume de compras feito ao estrangeiro foi em matérias-primas para a indústria, grande sinal. A dependência energética Portuguesa do petróleo baixou consideravelmente pela entrada em acção de uma política de aposta clara em energias alternativas, com isso baixando consideravelmente o volume de dinheiro pago ao exterior. Se levarmos em conta que nos últimos 6 anos o preço do petróleo duplicou é obra.
É verdade que um dos negociadores da Troika disse que a ajuda deveria ter sido pedida há mais tempo, mas o facto de o ter dito não quer dizer de todo que tenha razão. Não, não tem. Não tem pelas razões que acima mencionei, e não tem porque não foi honesto. Há considerações que têm sido escamoteadas e até escondidas numa tentativa de tapar o sol com a peneira. Portugal não é um caso idêntico ao da Grécia e menos ainda ao da Irlanda. Na Grécia há problemas estruturais do estado e da economia gravíssimos que a tornam um barril de pólvora fora do conforto da zona euro. Na Irlanda o estado é enxuto e bem organizado mas o resgate que foi obrigado a pedir foi para salvar o sistema financeiro, este, exposto até ao limite da irresponsabilidade aos activos tóxicos da bolha imobiliária Americana e também a grandes fundos de investimento inglês, estes também muito expostos aos activos tóxicos. A Irlanda baseou o seu crescimento, durante anos visto como exemplo; em castelos de areia. Atraiu multinacionais de grande porte com a promessa de impostos baixíssimos, para suportar essa benesse ia financiar-se ao mercado de capitais, agora paga a factura dessa exposição com a agravante de ver as empresas que atraiu fugirem para mercados mais seguros. Ou seja perde pau e bola como bem diz a gíria popular.
Portugal pela dimensão territorial e fundamentalmente económica foi a cobaia dos mercados para testar a resistência do Euro. Um país relativamente pequeno, um PIB idêntico ao de estados de alguns países grandes, como comparação o orçamento total da cidade de S. Paulo no Brasil é idêntico ao Orçamento Geral do Estado Português, era a bola perfeita para ser jogada. Não nos enganemos o que realmente os mercados querem saber, é se, a Zona Euro vai ou não corrigir os erros estruturais da moeda única, para isso abanou as asas da borboleta Portuguesa e ver se isso seria o furacão que atingiria a Espanha. Sim porque se a Espanha entrar em colapso financeiro todo os sistema Euro está em causa. Não serão 78 bilhões de Euros que serão precisos, ali a factura chegará muito perto do Trilhão de euros. Aí sim quero ver como fica a SR Angela Merkel e a sua burrice política na forma como encarou e lidou com a crise financeira das dívidas soberanas (assunto que pretendo abordar em profundidade muito em breve). A Expressão da Troika a reclamar que Portugal deveria ter pedido ajuda mais cedo não era mais que um embuste de que deveríamos ser o tampão Espanhol.
O memorando da Troika depois de indicar os objectivos a que se propõe para os próximos 3 anos abre com este parágrafo que me parece lapidar.
“Política orçamental em 2011
1.1. O Governo conseguirá um défice público de não mais de 10068ME em 2011.
1.2. No resto do ano o governo vai implementar rigorosamente a lei do orçamento para 2011 e as medidas de consolidação orçamental adicionais introduzidas antes de Maio de 2011. O progresso será aferido contra os tectos trimestrais (cumulativos) definidos no Memorandum of Economic and Financial Policies (MEFP), incluindo o Technical Memorandum of Understanding (TMU). (3T e 4T 2011)”
Nota: fiz copy paste do documento para não deixar margem de duvida.
Mas afinal em que ficamos, se o governo conseguirá um défice dentro do esperado como refere o ponto 1.1 e no resto do ano as medidas introduzidas antes de Maio de 2011 chegam para o efeito proposto onde estava o problema senão no tal efeito tampão a Espanha ou na inconsciência de alguns que acharam ser esta a hora de derrubar o Governo e com isso chegar ao poder? Note-se que as medidas impostas pela Troika são todas para levar a cabo nos anos 2012, 2013, 2014.Isto porque segundo os técnicos da Troika durante o período de 2011 tudo o que vinha sendo feito bem como o programado no Orçamento de estado, está dentro das boas práticas de administração. Também é elogiado muito do que o Governo já vem a fazer na reorganização do funcionamento dos serviços do estado, nomeadamente nos consulados, lojas do cidadão, mapa judiciário, repartições de finanças, rede hospitalar, rede de cuidados de saúde primários onde elogia as unidades de saúde familiar e nos serviços de socorro e protecção civil. Etc.
No mais há um conjunto de medidas que defendo, não é de agora. Tenho muitas dúvidas sobre grande parte PPP´s (Parcerias Público/Privadas) essa modalidade de negocio onde os lucros são das privadas e os prejuízos são públicos, modalidade inventada pelo PSD no tempo de Eng Ferreira do Amaral para a ponte Vasco da Gama e depois usada e abusada pelo Eng João Cravinho já nos Governos PS e de certa forma também usada, mal diga-se, pelos Governos do Eng Sócrates. Reformas no sector público que são pedidas desde sempre. Em abono da verdade, diga-se, que se houve Governo que fez reformas do sector público foi este de José Sócrates. Com isso ganhou a ira dos magistrados, de alguns sectores da saúde principalmente daqueles com interesse nos serviços prestados pelo sector privado, aqui á cabeça temos o grupo Melo de onde vem o Eduardo Cartroga coordenador do PSD para as negociações com a Troika e super-visor da elaboração do programa político do PSD. Dos professores, após reformas profundas no sector da educação, por motivos que darão um capítulo á parte e que pretendo abordar aqui também.
Com todos os dados hoje conhecidos só consigo chegar a uma conclusão. Pese embora o Governo PS e do Eng Sócrates tenha cometido erros o caminho que seguia não era o de catástrofe como querem fazer passar, bem pelo contrário. O momento escolhido para provocar uma crise política foi desastroso para o País e vai custar-nos muito caro. A oposição tanto a dos partidos da esquerda como os da direita tentou todo o tempo desta legislatura queimar em lume brando um governo minoritário para no momento que achasse oportuno faze-lo cair e com isso cada um tentar o seu quinhão. Escolheram o pior momento, mais grave, de forma irresponsável e atabalhoada. Com isto estamos a negociar um pacote de ajudas no meio de uma campanha eleitoral com um Presidente da Republica fraco e calado, depois de, dar o tiro de partida para tudo isto com a moção de censura em forma de discurso na tomada de posse, com a certeza que sairemos desta embrulhada toda com mais do mesmo, um governo em minoria seja ele de que quadrante for e uma oposição de novo aos saltos na Assembleia da Republica. Pior seria impossível.
As sondagens que vão surgindo indicam alguma inconsistência no partido vencedor das próximas eleições legislativas, existe um cenário que, face às declarações dos principais intervenientes, temos que colocar e sobre a qual temos que reflectir.
É praticamente garantido que nenhum partido (quer Socialista, quer Social Democrata) vai conseguir obter uma maioria absoluta.
Para além disso, e até face ao que ambos os grupos políticos declararam, não será expectável nem pensável que Bloco de Esquerda e Partido Comunista Português, façam parte de uma qualquer solução de governo maioritário com a liderança do Partido Socialista.
Face a isso, importa recordar também que, quer Pedro Passos Coelho, quer Paulo Portas já afirmaram que nunca aceitariam uma coligação queincluísse unicamente o seu partido e o partido liderado por José Sócrates. E Cavaco Silva já disse por diversas vezes (a a troika também) que Portugal necessita de um governo maioritário.
Desta forma, e face aos resultados eleitorais, penso que só haverão duas possibilidades realistas: um governo de coligação PSD/CDS-PP no caso de ambos os partidos garantirem uma maioria parlamentar, ou uma coligação PSD/PS/CDS-PP no caso dessa maioria não acontecer.
E a primeira não está dependente do partido que obtiver mais votos nas próximas eleições...